7 de agosto de 2023

Livro: A morte é um dia que vale a pena viver, de Ana Claudia Quintana Arantes

Eu não fazia ideia do que tratava o livro, mas considerando a editora (Sextante), já dava para imaginar que fosse algo ligado a autoajuda.

Não deixa de ser, mas o tema é bem diferente do que eu pensei e agora acredito que seja um livro que todos deveriam ler, porque a maioria das pessoas não conversa sobre o assunto e quando tudo acontece, ninguém sabe o que fazer.

O tema principal do livro é a morte, mas não sobre a morte em si, mas da vida que vem até que a morte chegue.

A única certeza que todos temos na vida é que, cedo ou tarde (uns muito cedo, outros bem tarde), todos vamos morrer.

Do que, como, quando, não dá para saber ao certo, ainda que, você ou alguém próximo, esteja acometido por doença grave e incurável. Mas que o fim chegará, isso é certeza absoluta.

Mas... com quem você já conversou sobre o fatídico dia? Já pensou como você gostaria que fosse (ou não fosse) feito o velório? O caixão? A roupa? E o que fazer com o corpo? Enterrar, cremar ou jogar no mar? Você gostaria que seus órgãos sejam doados em caso de morte acidental? Você tem seguro de vida que cubra despesas?

A autora fala sobre essas questões e outras, porque ela é médica responsável por Cuidados Paliativos em doentes terminais.

Ela fala com carinho e muito respeito sobre como lida com o paciente, com as famílias, as questões controversas entre as partes, os desejos dos pacientes e sobre essa necessidade que as pessoas deveriam ter de falar a respeito da morte, ainda que não haja um paciente terminal na família, porque a morte chegará e não deve ser tratada de qualquer jeito ou ignorada, como muita gente prefere fazer.

Você consegue sentir o amor que ela tem pela medicina, o respeito pela vida e pelo momento da morte, o cuidado e preocupação com o paciente e seus familiares. 

A forma como ela aborda a morte é direto, sem romantizar, mas sem fazer da morte um tema banal ou esquisito.

Ela me fez lembrar de um dos médicos com os quais faço acompanhamento por esse desejo de cuidar e da escuta com respeito e atenção, o que anda faltando muito nos médicos, profissionais que, à exceção do legista, sabe que vai ter que lidar com pessoas, mas parece não gostar muito disso.

Também me fez lembrar da importância dessas conversas, porque quando a morte bateu na porta da nossa casa pela primeira vez, foi um baque, mas que não pegou a família inteira tão desprevenida, já que essas questões sempre eram faladas a cada pessoa conhecida que morria.

Não pensar na morte ou fazer de conta que ela não existe não fará com que ela nunca chegue, então, você já pensou em como quer que procedam quando você morrer?