Eu não sou muito de correr para ler livros que aparecem na ilha de destaque das livrarias ou que do nada viram populares, mas essa é uma daquelas obras que minha amiga leitora profissional havia me indicado, e como sempre que ela indica uma obra, acerta em cheio no meu gosto, fui atrás.
Ok, teve ajuda de promoção de livros na internet, mas desde a última Bienal com feira de livros da USP em 2018, eu parei de comprar livros em qualquer outro lugar, com algumas exceções.
Enfim, O Conto da Aia está em voga desde que virou série de TV premiado, mas o que fez da história um recente fenômeno é o tema que envolve ditadura, falta de liberdade, definições de papéis, classes sociais desenhadas pelo governo, mortes aos que tentam contrariar o sistema, num momento em que o mundo teme essas questões e busca manter as liberdades conquistadas, contra outros grupos que bem que gostariam que o mundo do Conto de Aia fosse real.
Aia são as mulheres serviçais, que se vestem todas iguais, muito cobertas, afinal, mulher aqui é tipo carne, lembrando alguns países muçulmanos no trato com a mulher.
Tem mais, elas usam esse chapéu branco de abas longas que cobrem o rosto e só permitem que elas olhem para frente, como o cabresto do cavalo, para controlar o que elas podem ver e impedir que conversem com os outros sem que isso seja notado.
Elas nunca podem caminhar sozinhas e tem donos, com os quais, não necessariamente precisam praticar sexo, mas para os quais devem lealdade. Não chegam a ser escravas, mas é quase isso, já que não podem fazer nada porque querem. Elas não podem desejar nada, só seguir ordens de acordo com as funções para as quais foram adquiridas.
O dia a dia das Aias é controlado por seguranças que estão por todos os lados. Elas têm roteiros diários e itinerários pré-definidos. Passam sempre pelos mesmos lugares, fazem compras sempre nos mesmos lugares, compram sempre as mesmas coisas.
Mas todo regime excessivamente autoritário e restritivo está sujeito a oposições. É difícil, mas as pessoas sempre dão um jeito. É duro saber em quem confiar, com quem se pode falar, porque um passo em falso e qualquer um pode parar no muro dos assassinados.
Como sair dessa situação?
O Conto da Aia nos leva por essas dúvidas, por essa vontade de gritar, de fugir de um sistema horrível, assustador, temerário, e mostra como é viver sempre na dúvida, sempre com medo, ainda que seu único pecado seja pensar.
Leitura obrigatória nos dias atuais, nos lembra como é bom poder pensar, poder ler, poder estudar, poder fazer o que quer, quando quer.
Leia e sinta-se livre.
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