27 de maio de 2019

Crônicas de uma motociclista zero quilometro - capítulo 11: a primeira vez fora do Parque do Ibirapuera

ALERTA!!! Post gigantescamente enorme de grande!!!

Faz pouco mais de 3 meses que eu peguei a minha scooter, batizada de Scarlet (eu nunca coloquei nome em carro, mas fiquei com vontade de colocar nome na motinho).

De lá para cá altas emoções, mas com bem menos medo do que eu imaginava!

Quando eu comprei, numa loja não tão próxima de casa, sendo que existe uma loja da mesma rede a 550 metros (segundo o Google Maps), porque é a única que fica aberta aos sábados até às 18 horas, minha preocupação era "como eu vou pegar a moto e levar para casa?".

Eu até descobri um serviço de transporte de motos, mas numa consulta de véspera eu descobri que eles cobravam R$230,00 para fazer um trajeto de 3km, porque eles cobram pela região e não por distância. Num momento em que eu estava pesquisando quanto custava todo o restante do aparato para andar de moto, isso era um valor muito alto para tão pouco benefício.

Então só restou uma saída: já que as poucas pessoas que eu conheço que sabem andar de moto moram do outro lado da cidade, eu tinha que sair da loja na moto! (quer inventar moda, se vira!)

Meu receio era ter outro ataque de pânico (eu já tive antes, lá no Parque do Ibirapuera). Como eu iria conseguir pilotar a dita numa avenida de verdade (Avenida Atlântica para ser mais específica)?

Me concentrei na atividade.

Estudei o caminho mais tranquilo (simulei como se fosse andar de bike, para o Google Maps me dar alternativas mais tranquilas), pensei em todas as variáveis, torci por um dia sem chuva e o sábado chegou.

Peguei meu capacete aberto (comprei também para me precaver de um dos efeitos que o fechado dá numa crise de pânico, que é a claustrofobia), o par de luvas (ainda sem jaqueta, mas de manga comprida) e fui na cara e na coragem. A parte boa, eu estava tranquila. Um friozinho na barriga e só.

Quando eu cheguei, o vendedor já estava com ela prontinha, brilhando.

Me entregou os documentos, ativou o seguro, explicou como funcionava a moto, colocou ela na calçada e ficou esperando eu sair com um pedido para que eu enviasse uma mensagem para confirmar que eu cheguei em casa viva. rs

Sai da loja, meio cambaleando, mas logo encontrei o ponto de equilíbrio. Como o próprio vendedor disse, aquele horário era o melhor por ser o mais tranquilo de todos. Poucos carros na avenida e lá vamos nós, sempre lembrando de uma dica dada por um motociclista mais experiente: "vai de boa e pelo meio da faixa". Foi o que eu fiz, de boa (demais até: eu estava a, no máximo, 40 km/h).

Uma coisa que me surpreendeu positivamente foi a paciência dos motoristas pelos quais eu passei (ou que passaram por mim).

Numa das ruas, que é mão dupla, mas só tem 1 faixa para ir e 1 para voltar porque há carros estacionados dos 2 lados, os motoristas ficaram pacientemente aguardando eu conseguir encostar nos trechos que não havia carro estacionado, para que eles passassem. E ninguém passou xingando, buzinando, fazendo ou falando gracinhas, ou acelerando loucamente. Todos passaram calmamente, como quem quer dar um apoio moral e emocional para a iniciante nas 2 rodas.

No caminho, me dei conta de que precisava abastecer o tanque e dei uma volta para um posto que ficava num ponto fácil de entrar e sair, considerando o trajeto que eu estava fazendo.

Ao chegar no posto, mesmo tendo acabado de receber as instruções de como abria o banco para acessar o tanque, quem disse que eu conseguia abrir?

O frentista ficou intrigado "mas o vendedor não explicou como abre o banco?" ao que eu eu respondi que acabara de explicar, mas eu estava fazendo, claramente, algo de errado.

Após algumas tentativas, descobri como abrir o banco. O primeiro tanque a gente capricha e abastece com gasolina aditivada (todos os outros, também)!

Enquanto abastecia, o frentista que percebeu minha falta de intimidade com a scooter perguntou desde quando eu andava de moto e eu disse que aquela era a primeira vez que eu andava de moto além das aulas que tive para tirar a habilitação.

Ele ficou surpreso, me deu os parabéns e disse que eu tinha muita coragem para sair de cara andando pela avenida, ainda que não tivesse trânsito.

Feliz, me sentindo encorajada pelos outros motoristas e por essa simples fala do frentista, segui rumo a minha casa.

Meio atrapalhada, entrei na garagem sem derrubar o portão ou a parede. Vitória!

Vitória por vários fatores: por não ter tido um ataque de pânico, por ter tido coragem de encarar as ruas de São Paulo, por ter tido paciência comigo mesma e por ter, finalmente, comprado a minha scooter.

Naquele mesmo dia, depois de enviar uma mensagem para o vendedor, eu decidi dar umas voltinhas pelos quarteirões perto de casa para testar como parar a moto, como fazer saídas, como fazer subidinhas, como travar o guidão, como frear, como ajustar o espelho, enfim, como usar a moto. Até testei o gancho para sacolas, depois de subir até o mercado e comprar uma caixa (gigante) de Sucrilhos que não cabia embaixo do banco (eu ainda não tinha o bauleto).

Uma semana depois, eu precisava ao menos ligar o motor e fui dar umas voltas no quarteirão de novo, coisa rápida, uns 5 km e voltei para casa.

Na semana seguinte estava determinada a ir para a faculdade de moto. Claro que no sábado, quando tem menos gente na facu e nas ruas no caminho entre minha casa e o campus.

Acordei torcendo para que não estivesse chovendo e para que fosse um dia sem chuva. São Pedro esteve de acordo durante todo o período em que eu estive fora de casa com a moto. Peguei capacete, jaqueta, luvas, minhas coisas e lá fui eu.

Ao chegar, primeiro desafio: estacionar a moto.

Eu só não derrubei nada nem ninguém, porque não passava nenhum carro no momento e porque eu tive o cuidado de parar longe de qualquer outro carro ou moto que estava estacionado na rua. A moto só não ficou mais torta por impossibilidade, mas eu não estava muito disposta a tentar arrumar, porque poderia ficar pior! Coloquei a trava de roda, travei o guidão, levantei o cavalete central e fui para a facu.

Na saída, um quase desastre: eu quase atravessei o canteiro central direto, isso porque o farol estava fechado, todo mundo estava parado e não tinha nada me impedindo de sair tranquilamente da vaga. Dei uma paradinha e segui em frente. Mais à frente, onde eu tinha que fazer uma conversão, quase machuquei meu pé, porque estava tentando parar a moto, acelerada, colocando o pé no chão como eu faço com a bicicleta.

Nota: NUNCA TENTAR PARAR UMA MOTO EM MOVIMENTO COM OS PÉS!!!

Guiando mais devagar do que nunca, cheguei em casa naquele dia. Que perigo!

Repassei comigo tudo o que eu tinha feito de errado e o que eu precisava fazer para corrigir esses erros antes que eu me machuque ou machuque alguém.

No dia seguinte, dúvida cruel: testar ou não mais um caminho?

E lá fui eu, dessa vez, para um shopping. Próximo de casa também, mas exigia que eu passasse por um par de avenidas, entre elas, a Avenida Interlagos.

Com calma, fui e consegui chegar no estacionamento, ainda que eu tenha errado a entrada (descobri que o acesso para motos, em qualquer estacionamento de shopping é diferente do acesso dos carros).

Aqui uma experiência negativa: os motoristas de carro parecem compreender que quando alguém de moto fica no meio da faixa é porque está começando, então eles não passam rasgando do lado, não buzinam, não pressionam.

De repente, estava eu na faixa do ônibus (era domingo e não vinha nenhum ônibus atrás), bem no meio e um desses motoqueiros babacas de moto grandona e potente veio de algum lugar distante, buzinando feito doido e passou rasgado entre mim e um outro motociclista que ia de boa no entre faixas, me dando um susto, o que poderia ter me levado ao chão.

Por que se os motoristas de carros conseguem simpatizar com uma pobre coitada iniciando no mundo das 2 rodas, um outro, que também está em 2 rodas, não pode ser mais compreensivo e demonstrar um pouquinho de compaixão e empatia?

Eu esperava levar buzinadas e fechadas de carros impacientes com minha lerdeza, mas de outras motos?

Depois disso, eu descobri que não é tão ruim andar no corredor Norte-Sul aos fins de semana, que eu consigo andar usando o GPS em outros trechos desconhecidos, que eu não posso entrar de lado em lugares onde tenham frestas na via, porque a roda enrosca e eu posso cair (eu quase caí), e que aos poucos eu consigo passar de 40 km/h nas vias.

Já sai de Interlagos para o Morumbi, para a Liberdade, para Santa Cecília, para a Barra Funda e para o Anhembi e até andei na Marginal Pinheiros.

Já fiz 1 curso teórico de pilotagem segura (obrigada Porto Seguro Moto), 1 curso de pilotagem prática (de novo, obrigada Porto Seguro Moto... aliás, acho que só por esses 2 cursos, valeu ter pego o seguro com a Porto) e 1 curso de pilotagem de scooter (esse eu paguei)*.

Não sou nenhuma expert no assunto, mas sigo aprendendo, pegando dicas, prestando atenção no que eu posso melhorar.

Se você tiver alguma dica ou alguma dúvida que eu possa ajudar (nem sei bem o que eu posso ajudar, mas podemos trocar experiências caso você seja mais iniciante do que eu e meus 3 meses), escreve nos comentários. =)

*Vou fazer propaganda de graça: para quem está em São Paulo/Santo André, eu indico o curso de pilotagem do Carlos Amaral Instrutor (ele tem Fb, blog, insta). O valor é bem acessível, diferente de alguns cursos que eu encontrei pela internet, e o Amaral é um cara super experiente e paciente com seus alunos, não importa se você está começando ou já tem anos de pilotagem. Se anda de scooter, de big trail, speed ou custom, não importa, eu tenho certeza que você não vai se arrepender. No primeiro curso prático que eu fui, tinha gente bem experiente que gostou de fazer a aula, porque aprendeu técnicas novas. O legal é que a esposa dele, a Georgia Zuliani, faz fotos bem bacanas durante o curso e você pode guardar de lembrança. Super recomendo!

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