2 de abril de 2012

Diabetes: um mal que mata em silêncio

Domingo fizemos a missa de 13 anos de falecimento da minha avó. Ela tinha diabetes, diagnosticada na fase adulta, que a consumiu por todo o tempo que eu me conheço por gente, e a levou depois de uma batalha e tanto.

Hoje em dia é um pouco mais fácil sobreviver às intepéries da doença, seja pelos medicamentos ou pela alimentação, mas é uma doença cruel, porque não avisa antes de se instalar e depois, é só estrago.

Quando eu era criança, lembro que a única marca de adoçante disponível era a Assugrin, à base de aspartame, e não existiam opções de alimentos adaptados para diabéticos. O jeito era comer só coisas naturais e, ainda assim, com muitas restrições.

Na minha fase pré-adolescente, começaram a aparecer opções de alimentos integrais, mas eles eram tão poucos, tão caros e tão ruins que era melhor para ela fazer uma dieta balanceada sem contar com eles. Ela deve ter comprado 1 único pacote de arroz integral que foi comido a duras penas.

Quando eu entrei na facu, as prateleiras do Pão de Açúcar tinham uma enorme variedade de produtos importados da Alemanhã, especialmente para diabéticos. Eram (acho que ainda são) caros, mas num belo dia enchi um carrinho com o que eu encontrei e levei pra ela.

A falta de costume de comer doces e afins, fez com que ela não se encantasse por tudo o que eu levei, mas uma coisa que ela amou foi o mel. Não sei como se faz mel dietético, mas aquele é, e era a única coisa que eu sempre comprava quando acabava o dela.

Ela fazia auto-aplicação de insulina, diariamente, com uma pequena seringa, na coxa. Por um bom tempo ela ia, diariamente, até uma farmácia, para que injetassem a dose diária. O farmacêutico, com dó de fazer uma senhora caminhar todo santo dia, um trajeto que ela gastava algo como 1h para ir e voltar à pé, ele a ensinou como fazer sozinha.

Vi uma única vez e sai correndo. Deu aflição! Hoje, talvez eu conseguisse fazer para ela. Mas tive que virar a "enfermeira" da casa, quando meu avô fez uma cirurgia no joelho, para saber que eu aguento ver carne cortada e muito sangue correndo.

Um belo dia, ela passou muito mal e tivemos que correr com ela para o hospital. Ela ficou 27 dias internada na UTI, onde diagnosticaram um sério problema renal, sendo que ela não poderia receber um transplante e teria que passar o resto da vida fazendo diálise (um procedimento que faz a troca dos líquidos dos rins, por medicação inserida no corpo por meio de um catéter, em intervalos de 4h, e apesar de ser feito em casa, impedia ela de fazer muitas coisas, além de deixar o organismo vulnerável).

Justo ela, vaidosa, super ativa, fazia caminhada diária com um grupo de senhoras do bairro, feira, supermercado... teria que ficar em casa, boa parte deitada, porque a cada 4h precisávamos começar a troca, mas o preparo antes levava uns 30 minutos e depois mais uns 30, ou seja, o intervalo real era de 3h.

Foram uns 18 meses depois da alta da UTI que ela se foi. Nesse intervalo, tive que ver ela ficando fraca, triste e me questionando por que ela tinha que continuar vivendo daquele jeito. Engulo seco cada vez que lembro dela me perguntando isso.

Muitas noites em claro em PS por conta de água no pulmão (parece que é culpa do excesso de tempo sem se mover e deitada), muitas internações por recaídas em outros órgãos, 1 amputação do dedo do pé e, o corpo disse chega. Naquela manhã, eu fui no hospital para levar umas trocas de roupa e mais kits da diálise (que recebíamos do SUS, mensalmente, em casa e que avulso no hospital era cobrado o equivalente a US$200/sessão, sendo que eram 4 ao dia), ela estava bem e tinha me perguntado se eu não ia levar ela pra casa, porque ela estava se sentindo super bem.

Tive que deixá-la no hospital e no meio da tarde recebo a ligação que faria meu mundo virar de ponta cabeça: ela havia sofrido falência múltipla de órgãos.

No momento você perde o chão, não sabe o que fazer e quem está em volta fica sem saber o que fazer.

Eu tinha uma péssima companhia exatamente naquele momento. Queria estar sozinha, porque eu precisava de um abraço, algum carinho, porque naquele dia, perdi a pessoa que me criou e que eu tinha cuidado nos últimos anos.

Enfim, 2 coisas que eu gostaria de deixar como mensagem deste post:

1 - Faça exames frequentes de controle, mesmo que você não tenha antecedentes na família com diabetes. Se tiver, redobre a atenção, pois diabetes também é genético.

2 - Se alguém que você conhece e lhe é especial perder um ente querido, não precisa falar nada, não precisa tentar mostrar nada, dê-lhe um forte e sincero abraço, se permita chorar e permita que a pessoa que está em luto chore, sofra e que seja fraca, porque quanto antes nos aliviamos de toda dor que sentimos, mais chances do peso passar mais rápido. A saudade que sentimos é eterna, as lembranças nos farão chorar em vários momentos, mas a vida continua e saber que temos amigos por perto é reconfortante, mesmo que nenhuma das partes diga 1 palavra sequer. =)

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